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title: HTML, EME e Normas Abertas
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author: Marcos Marado
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date: 2016-09-18 20:26:00
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carrousel: true
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categories:
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- Factos
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- HTML
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- Legislação
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- Normas Abertas
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- Protesto
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- W3C
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Normas Abertas são normas (especificações de formatos ou protocolos) que
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cumprem [cinco simples regras][1]. Elas têm de ser:
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1. sujeitas a escrutínio público completo e sem restrições de uma forma
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igualmente disponível a todas as partes;
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2. sem nenhum componente ou extensão que tenha dependências em formatos ou
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protocolos que não cumpram, eles próprios, a definição de uma Norma Aberta;
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3. livres de cláusulas legais ou técnicas que limitam a sua utilização por
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qualquer parte ou em qualquer modelo de negócio;
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4. geridas e desenvolvidas continuamente de forma independente de um único
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fornecedor num processo aberto à igual participação de competidores e outras
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partes;
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5. disponível em múltiplas implementações completas por fornecedores
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competidores, ou como uma implementação completa disponível de igual forma a
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todas as partes.
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A importância das Normas Abertas é de certa forma sublinhada pela sua própria
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definição: uma Norma Aberta pode facilmente ser usada por qualquer pessoa, sem
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restrições. Isto permite a qualquer programador implementar essa norma, e evita
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exclusão de utilizadores – qualquer pessoa é livre de usar uma Norma Aberta.
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Esta importância foi reconhecida ao longo dos anos, e ultimamente esse
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reconhecimento chegou a altos níveis de definição de políticas, com países como
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Portugal a [mandatar o uso exclusivo de Normas Abertas pela Administração
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Pública][2], como forma de garantir aos seus cidadãos acesso sem restrições a
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dados e serviços públicos.
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Um bom exemplo de uma Norma Aberta é o HTML. Mesmo que não esteja muito
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à-vontade com questões técnicas, provavelmente já ouviu falar do HTML — ou pelo
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menos notado em alguns “endereços web” (chamados URL) como
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“http://umsite.pt/isto.html”. Isso acontece porque o HTML é a “linguagem da
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web”: cada página web é escrita num formato, chamado HTML, e visto que todas as
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páginas web são escritas no mesmo formato, e porque esse formato é uma Norma
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Aberta, qualquer pessoa pode criar um programa de computador (neste caso, um
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navegador web) que recebe fielmente a página nesse formato e sabe como
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mostrá-la correctamente no ecrã do seu computador. Isto é o que torna possível
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ver a mesma página web no seu telemóvel, o seu computador ou no seu tablet,
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mesmo que esteja a usar programas diferentes para a ver. Não interessa se está
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a usar o navegador web do Android no seu telemóvel ou o Firefox no seu
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computador, enquanto um amigo seu está a usar o navegador do iOS e o Safari no
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seu Mac. Qualquer pessoa pode ver uma página web correctamente: isso é uma das
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belezas da Web, e acontece porque o HTML é uma Norma Aberta.
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Então, o que é isso do EME? E porque é que as pessas andam a falar sobre “DRM
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no HTML”?
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O EME é uma especificação proposta que tem como intenção “[extender o
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HTMLMediaElement][3]” (algo que é parte da especificação do HTML). O que isso
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significa é que, se o EME for aprovado, uma parte da especificação actual do
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HTML será actualizada. A “nova versão” incuirá dois tipos de alterações:
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algumas mandatórias e outras opcionais. Nas suas próprias palavras,
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“Implementação de Digital Rights Management não é obrigatória para cumprir com
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esta especificação: apenas o sistema Clear Key é de implementação obrigatória
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como base comum.” A [W3C argumenta][4] que isto não constitui nenhum problema,
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e que não estão a acrescentar DRM no HTML, porque implementar DRM não é
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obrigatório. Contudo, o facto de implementar DRM ser possível (mesmo que não
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obrigatório) significa que, se um sítio web usar tal implementação, ou o seu
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navegador web também a usa, ou não será capaz de ver essa parte do site
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(lembra-se do que disse atrás sobre todos poderem ver a web? Isso deixaria de
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acontecer.) Claro que isto não necessitaria de ser um problema de todo: se a
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especificação permite a implementação, é só uma questão de todos os navegadores
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fazerem essa implementação, certo? Errado. O problema aqui é que a
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“especificação não define um sistema de protecção de conteúdos ou Digital
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Rights Management”.
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Por outras palavras: o EME introduz a possibilidade de usar coisas (sistemas de
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DRM) que não fazem parte da especificação, pelo que uma especificação (uma
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forma de uma parte independente implementar toda a especificação) não está
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disponível — o EME não é uma Norma Aberta. E visto que há a intenção de inserir
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o EME no HTML (actualizando parte da sua especificação), então o HTML irá ter
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uma extensão (EME) que tem “dependências em formatos ou protocolos que não
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cumpram, eles próprios, a definição de uma Norma Aberta”. Sim, aprovar o EME
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iria fazer com que o HTML deixasse de ser uma Norma Aberta.
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## Resumindo
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O HTML é uma Norma Aberta, e isso é bom para todos. Tão bom, na realidade, que
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alguns países, como Portugal, obrigam a que a Administração Pública use apenas
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Normas Abertas. Contudo, existe uma proposta (EME) que, se for aprovada, irá
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fazer com que o HTML deixe de ser uma Norma Aberta. Isso irá ter um elevado
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impacto negativo em Administrações Públicas, cidadãos, e a comunidade web no
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geral — o que hoje em dia significa os cidadãos do mundo.
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Esta aprovação iria ter uma elevado impacto social, político e cultural em todo
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o lado. Da actual era de partilha de conhecimento, fácil acesso à informação, e
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na generalidade tornar o mundo mais acessível, podemos estar a caminhar para a
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idade das trevas da web. Há, claro, uma solução: vamos [fazer com que a W3C
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saiba que nos opomos ao EME][5], e que pedimos-lhes para que não o aprovem.
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[1]: https://fsfe.org/activities/os/def.en.html
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[2]: https://m6.ama.pt/docs/Lei362011-NormasAbertas.pdf
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[3]: https://w3c.github.io/encrypted-media/#htmlmediaelement-extensions
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[4]: https://www.w3.org/2016/03/EME-factsheet.html
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[5]: https://drm-pt.info/2016/09/08/contra-drm-na-w3c/
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