Não me controles as conversas
Todos beneficiamos da liberdade e privacidade que temos para explorar a nossa identidade e construir comunidades. Todos precisamos de espaços seguros, especialmente em situações de fragilidade.
Em 2022, os legisladores Europeus propuseram novas regras com o intuito de proteger as crianças. Infelizmente, esta lei permite que as autoridades monitorizem as conversas legítimas de qualquer cidadão.
Esta legislação prejudica toda a gente, incluindo as crianças que tenta proteger. Tornar a internet menos segura não protege ninguém.
Se trabalharmos em conjunto, conseguimos proteger as crianças sem comprometer a confidencialidade e segurança das comunicações digitais.
As tuas conversas privadas vão ser analisadas. Não vais poder partilhar nada íntimo sem correr o risco de todas as tuas mensagens, fotos e vídeos acabarem nas mãos de uma instituição do governo.
Sabe-se que a tecnologia a usar não é robusta. E como consequência, qualquer um de nós pode ser acusado de ser um agressor sexual (de crianças) sem ter feito nada de errado.
Não podemos dar passos em falso. Todos concordamos: o abuso sexual de menores é um acto horrível. É por isso que não devemos desperdiçar os nossos recursos em metodologias que sabemos que são ineficazes e prejudiciais para aqueles que estamos a tentar proteger.
Uma grande parte de ser jovem é explorar e descobrir a nossa própria identidade: em que é que acreditamos, de que é que gostamos, e quem é que queremos ser. Na nossa sociedade, os espaços online são uma parte essencial deste processo, seja através de redes sociais, aplicações de troca de mensagens, ou videojogos.
Todos precisamos de privacidade, mas há certas profissões obrigadas ao sigilo profissional. Para jornalistas, advogado/as, e médico/as, a privacidade nas comunicações é essencial.
As mudanças sociais positivas têm sido largamente feitas por defensores dos direitos humanos: activistas, voluntário/as, ou profissionais que trabalhem com a sociedade civil. Para haver uma sociedade democrática, é preciso que consigam comunicar de forma segura e livre de monitorização.
Aumentar a consciencialização da população jovem para a existência de linhas de apoio, queixas institucionais (como a polícia e serviços de segurança social) e outros mecanismos de ajuda.
Muitas organizações recomendam aumentar o investimento nos serviços de segurança social, como departamentos de protecção de menores, escolas, e medidas anti-pobreza.
Na Alemanha, uma das maiores colecções de material de abuso sexual de menores alguma vez descoberto continuou online durante anos porque a polícia disse não ter recursos humanos para a desactivar. Soluções estruturais garantiriam que as autoridades apropriadas teriam os recursos apropriados para lidar com o vasto número de casos de material de abuso sexual de menores que já recebem e ficam por endereçar.
Aumentar os orçamentos das linhas de apoio tanto a nível da União Europeia como a nível nacional, garantir que há base legislativa adequada ao seu trabalho, e garantir que os fundos serão disponibilizados a longo prazo – são medidas que aumentariam a capacidade e reduziriam a precariedade destas instituições que já fazem um trabalho significativo de remoção de material de abuso sexual de menores da internet de forma rápida e eficaz, e que também dão apoio às vítimas.
A Directiva 2021 obriga os Estados-Membro a tomar mais medidas para endereçar o abuso sexual de menores a nível nacional. Esta directiva não foi implementada na sua totalidade apesar de estar em vigor há 11 anos. O DSA (Digital Services Act) também introduz muitas oportunidades para endereçar o problema do conteúdo ilegal online, incluindo material de abuso sexual de menores.
"O abuso não vai parar enquanto as raízes do problema que permitem que este exista em primeiro lugar não forem confrontadas". O CDC (Centros de Controlo e Prevenção de Doenças) informa que "Estão disponíveis estratégias eficazes baseadas em provas para proteger proactivamente as crianças de abuso sexual, mas poucas delas foram consideravelmente divulgadas".
Reunir grupos de direitos de crianças, educadores, assistentes sociais, grupos de direitos digitais, e outros grupos de direitos humanos, ajudar-nos-á a responder à pergunta mais importante: como é que conseguimos manter as crianças seguras, enquanto garantimos os nossos direitos fundamentais?