7
1
mirror of https://gitlab.com/ansol/web-ansol.org.git synced 2024-11-25 07:33:16 +00:00
web-ansol.org/content/noticias/2022-01-19-software-livre-nos-programas-eleitorais-2022/index.md

310 lines
16 KiB
Markdown
Raw Blame History

This file contains invisible Unicode characters

This file contains invisible Unicode characters that are indistinguishable to humans but may be processed differently by a computer. If you think that this is intentional, you can safely ignore this warning. Use the Escape button to reveal them.

---
layout: article
title: Software Livre nos programas eleitorais 2022
layout: article
date: 2022-01-19
image:
caption: |
Imagem: Public Money, Public Code,
por [Free Software Foundation Europe](https://fsfe.org/contribute/spreadtheword#pmpc),
sob a licença [CC BY-SA 4.0](https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/)
---
Apenas a alguns dias das **eleições legislativas portuguesas de 2022**, é
importante perceber quais as posições dos partidos que contestarão os lugares
na Assembleia da República no que toca a Software Livre e Direitos Digitais.
Analisámos os programas disponíveis e apresentamos aqui um resumo dos pontos
mais relevantes.
<!--more-->
Algumas siglas utilizadas no artigo:
* CNPD: Comissão Nacional de Proteção de Dados
* RNID: Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital
* CNCS: Centro Nacional de Cibersegurança
* RGPD: Regulamento Geral de Proteção de Dados
* DRM: Digital Rights Management / Gestão de Direitos Digitais, ou, mais
corretamente, Digital Restrictions Management / Gestão Digital de Restrições
* TJUE: Tribunal de Justiça da União Europeia
Defendemos que todo o código financiado por dinheiro público deve ser Software
Livre (recomendamos que visitem a página [Public Money? Public
Code!](https://publiccode.eu/pt/)). Defendemos o direito à privacidade nas
comunicações dos cidadãos e somos contra o experimentalismo não fundamentado de
voto eletrónico ou online. Para conhecer melhor os ideais defendidos pela
ANSOL, sugerimos que leiam o nosso artigo ["10 ideias para a próxima
Legislatura"](https://ansol.org/noticias/2022-01-03-dez-ideias-para-a-proxima-legislatura/).
**Actualização 21-01-2022:** Fizemos pequenas edições ao texto, no sentido de o
tornar mais claro. As versões anteriores estão acessíveis no [nosso
repositório](https://gitlab.com/ansol/web-ansol.org).
**Actualização 28-01-2022:** Adicionamos uma tabela de resumo ao fim do artigo
para tornar a análise dos programas mais clara.
## Partido Socialista
**Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.** Propõem reforçar o
serviço Dados.Gov com mais oferta de dados, incluindo dados em tempo real.
Propõem generalizar a experiência de voto eletrónico presencial feita em Évora,
sem referência a Software Livre ou às críticas da CNPD. Propõem definir um
programa nacional de ensino da computação desde o ensino básico, referindo a
literacia e ética digitais mas sem referência a Software Livre. Propõem a
digitalização dos manuais escolares sem referência a licenças abertas.
**Comentário da ANSOL:** A generalização da experiência feita em Évora é
preocupante, especialmente dadas [as críticas feitas pela CNPD][cnpd-evora]. A
criação de um programa de ensino da computação pode prender várias gerações às
empresas responsáveis pelo software proprietário utilizado, sendo crucial a
inclusão de Software Livre nesta iniciativa. Além da utilização de Software
Livre neste programa, é importante que seja ensinado o papel dos direitos de
autor na criação de software e as diferenças entre software proprietário e
software livre.
## Partido Social Democrata
**Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.** Propõem lançar uma
iniciativa nacional de dados abertos capaz de incluir a construção de modelos
de negócio para o sector privado.
**Comentário da ANSOL:** O programa não toca em direitos digitais para além da
cobertura nacional do acesso a comunicações. Não é claro qual a diferença entre
o programa “Portugal.Dados” que propõem criar e a plataforma existente de dados
abertos do governo (Dados.Gov).
## Bloco de Esquerda
**Resumo do programa: "O software criado ou comprado com dinheiro dos
contribuintes deve ser software livre ou de código aberto, permitindo a
reutilização pelas várias entidades da Administração Pública"**. Defendem a
neutralidade da internet. Propõem o fim do DRM e o fim da criminalização da
partilha de conteúdos para fins não comerciais. Defendem que a produção
científica com dinheiros públicos deve ser obrigatoriamente depositada em
repositórios abertos. Defendem o teste de voto eletrónico à distância com “a
participação de especialistas de segurança das Universidades portuguesas,
utilização de código aberto e amplo escrutínio público”. Propõem o fim da taxa
de cópia privada.
**Comentário da ANSOL:** O programa aborda positivamente várias questões que
julgamos importantes, sendo de destacar a obrigatoriedade de Software Livre
quando criado ou comprado com dinheiro público. Os requisitos para o teste ao
voto eletrónico à distância são correctos, mas o projecto deveria começar por
um estudo sobre o desenho e implementação do processo. Ao começar pelo teste,
condiciona-se a desvalorização das críticas que poderiam por em causa a sua
exequibililidade, como aconteceu no projeto-piloto de Évora, [fortemente
criticado pela CNPD][cnpd-evora].
## CDU (PCP-PEV)
**Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.** São contra a censura
e a hipervigilância no contexto de direitos digitais, defendem a neutralidade
da internet e a não criminalização da partilha de conteúdos para fins não
comerciais.
**Comentário da ANSOL:** Não fazem qualquer referência a Software Livre, tendo
apenas algumas referências a direitos digitais.
## PAN
**Resumo do programa: "garantir que o software desenvolvido pelo Estado, ou
cujo desenvolvimento é financiado por recursos públicos, tem o seu código
público, ou seja, é software livre, excepcionando situações devidamente
justificadas"**. Propõem avaliar a migração de todo o software de agências
governamentais e entidades públicas para software livre. Propõem reforçar os
meios da CNPD e CNCS. Propõem garantir a neutralidade da Internet, proibindo as
ofertas de zero-rating. Propõem reforçar o investimento do Estado em
infraestrutura própria.
**Comentário da ANSOL:** Gostávamos de ver o primeiro ponto sem as exceções
“devidamente justificadas”, mas pode ser um bom primeiro passo.
## Iniciativa Liberal
**Resumo do programa: "Reduzir o custo total de propriedade recorrendo ao uso
de especificações abertas, como o software Open Source"**. Propõem publicar
todos os dados de compras públicas de bens e serviços num formato standard
único e aberto. Propõem a criação de um datacenter operado pelo Estado para
albergar a sua infraestrutura. Propõem implementar uma estratégia de gestão de
risco e cibersegurança em todas as iniciativas TIC para assegurar a segurança e
privacidade digital. Propõem a neutralização do impacto da taxa de cópia
privada, reduzindo a taxa em 50% e estreitando a base de incidência ao reduzir
a lista de tipos de equipamentos sujeitos, mas também propõem eliminar todas as
isenções existentes.
**Comentário da ANSOL:** A recomendação de utilização de Open Source é
positiva, mas parece haver alguma confusão técnica ao subentender que Open
Source é um tipo de especificação aberta. Em relação à taxa de cópia privada, a
redução da taxa e da base de tributação vão no sentido positivo, mas a
eliminação das isenções tem impacto negativo. A eliminação das isenções remove
os poucos mecanismos que as empresas têm para evitar a taxa, [apesar de haver
decisões pelo TJUE que indicam que a taxa não deve ser aplicada a
empresas][tjue-sgae].
## Livre
**Resumo do programa: "Construir Bens Digitais Comuns, garantindo que todo o
código desenvolvido com dinheiro público fique numa licença de código
aberto"**. Propõem limitar a utilização de software proprietário na educação
apenas a casos onde Software Livre não seja adequado. Propõem introduzir
Software Livre em todos os níveis da administração pública e instituições
financiadas com recursos públicos. Propõem a criação de livros escolares com
licença de autor aberta (Creative Commons). Defendem o direito à fabricação e
reparação. Propõem reforçar o papel da CNPD e promover a encriptação de todas
as comunicações. Propõem estender o RNID para que sítios oficiais não dependam
de serviços terceiros, aceitação de termos estranhos à finalidade do serviço, e
não tenham rastreamento durante a interação com o serviço. Propõem participar
na construção do Contract for the Web. Propõem melhorar as condições da votação
por correspondência e investir no desenvolvimento e experimentação de sistemas
de voto eletrónico à distância.
**Comentário da ANSOL:** O programa aborda positivamente várias questões que
julgamos importantes, sendo de destacar o licenciamento de código aberto quando
desenvolvido com dinheiro público e a utilização de Software Livre na
Administração Pública.
## Partido da Terra (MPT)
**Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.** Propõem promover e
implementar o voto eletrónico à distância como alternativa ao voto presencial
para todos os nacionais, em todos os atos eleitorais, sem referência a Software
Livre.
**Comentário da ANSOL:** Não fazem qualquer referência a Software Livre.
Promover a implementação do voto eletrónico à distância sem mencionar a
necessidade de estudos preliminares é cair nos mesmos erros que aconteceram no
projeto-piloto em Évora, onde, segundo a CNPD, [ficaram "[feridos] os mais
básicos princípios do Estado de Direito Democrático, com menosprezo pelos
princípios da previsibilidade e da transparência do processo
eleitoral"][cnpd-evora].
## Volt Portugal
**Resumo do programa: "Projetos financiados com dinheiro público deverão ter o
código desenvolvido num local de acesso público, excepto em situações onde o
segredo de justiça/defesa nacional seja aplicável"**. Propõem, nos serviços
públicos, substituir faseadamente o software utilizado por Software Livre,
padronizar as ferramentas de produtividade e garantir ações de formação.
Propõem, na educação, substituir e promover Software Livre, incluindo uma
solução para videoconferências cifradas e seguras. Propõem tornar a CNPD numa
secretaria de estado com poderes de informação e fiscalização em matérias de
dados pessoais e direitos online, com pareceres vinculativos e sanções nos
incumprimentos das suas normas. Propõem a adoção do voto eletrónico à
distância, depois de testes com a participação de especialistas de segurança
das Universidades com o objetivo de ter um sistema seguro, anónimo,
verificável, fiável, e acessível, mas sem referência a Software Livre.
**Comentário da ANSOL:** Apesar de mencionarem que o código financiado com
dinheiro público deve ser disponibilizado ao público, não dizem explicitamente
que o código deve ser licenciado como Software Livre.
## Restantes partidos
Os restantes partidos ou não tinham disponível o programa eleitoral para 2022,
ou não faziam qualquer referência a Software Livre ou direitos digitais.
[cnpd-evora]: https://www.cnpd.pt/comunicacao-publica/noticias/voto-eletronico-cnpd-defende-rigoroso-escrutinio/
[tjue-sgae]: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/HTML/?uri=CELEX:62014CJ0470&from=en
## Tabela de resumo
Para tornar a análise aos programas dos vários partidos mais clara, decidimos
acrescentar uma tabela onde se reunem os pontos mais importantes para a ANSOL,
atribuindo pontos positivos ou negativos consoante a seguinte classificação:
- **2**: Medidas são consideradas boas pela ANSOL
- **1**: Medidas são consideradas razoáveis, mas podiam ser melhores ou não estão suficientemente explícitas
- **\-**: Não há referência ao tema
- **-1**: Medidas são consideradas perigosas, mas podiam ser piores
- **-2**: Medidas são consideradas perigosas
<style>
table { max-width: 100%; margin-top: 2em; margin-bottom: 2em; }
table thead th { text-align: center; }
table tbody th { text-align: left; padding: 0 1em; }
table tbody td { text-align: center; min-width: 3em; }
table tbody tr:nth-child(2n + 1) { background-color: #eee; }
table td.n { background-color: #ffdddd; }
table td.p { background-color: #cceecc; }
</style>
<table>
<thead>
<tr>
<th></th>
<th>PS</th>
<th>PSD</th>
<th>BE</th>
<th>CDU</th>
<th>PAN</th>
<th>IL</th>
<th>Livre</th>
<th>MPT</th>
<th>Volt</th>
</tr>
</thead>
<tbody>
<tr><th>Dinheiro Público, Código Público!</th><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 1</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td></tr>
<tr><th>Neutralidade da Internet</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td></tr>
<tr><th>Dados Abertos</th> <td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td></tr>
<tr><th>Acesso Aberto</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td></tr>
<tr><th>DRM</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 1</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td></tr>
<tr><th>Partilha sem fins comerciais</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td></tr>
<tr><th>Voto Electrónico</th> <td class='n'>-2</td><td class='z'> -</td><td class='n'>-1</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='n'>-1</td><td class='n'>-1</td><td class='n'>-2</td><td class='n'>-1</td></tr>
<tr><th>Taxa da cópia privada</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 1</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td></tr>
<tr><th>RNID</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td></tr>
<tr><th>Bloqueio de sites</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td></tr>
<tr><th>Hipervigilância/Privacidade</th> <td class='z'> -</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td><td class='z'> -</td><td class='p'> 2</td></tr>
</tbody>
<tfoot>
<tr><th>Total</th> <th> 0</th><th> 2</th><th>15</th><th> 8</th><th> 5</th><th> 4</th><th>12</th><th>-2</th><th> 7</th></tr>
</tfoot>
</table>
**Legenda:**
**Dinheiro Público, Código Público:** Todo o código financiado por dinheiro
público deve ser disponibilizado ao público com uma licença de Software Livre.
**Neutralidade da Internet:** Garantia de que os operadores tratam de forma
igual todo o tráfego online.
**Dados abertos:** Disponibilização de dados públicos com licenças livres para
poderem ser reutilizados por cidadãos e entidades
**Acesso aberto:** Produção científica e/ou educativa deve ser publicada em
acesso aberto
**DRM:** Eliminação do DRM
**Partilha sem fins comerciais:** Descriminalização ou legalização da partilha
de ficheiros sem fins comerciais
**Voto electrónico:** Não devem ser feitos testes piloto sem estudos prévios.
Qualquer teste deve utilizar Software Livre e disponibilizado ao público.
**Taxa da cópia privada:** Eliminação da taxa da cópia privada
**Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital:** Deveria ter sido
revisto até outubro de 2021. Deve ser feita uma actualização tecnológica e
adicionados mecanismos para que o regulamento seja cumprido.
**Contra o bloqueio extra-judicial de websites:** Devem ser revogadas a Lei e o
Memorando de entendimento que colocam entidades não judiciais a declarar
websites como infractores do Direito de Autor.
**Hipervigilância/Privacidade:** Medidas que promovem a privacidade dos
cidadãos em ambiente digital relativamente às empresas tecnológicas